Ciência, conhecimentos ancestrais e transformação digital em diálogo pela saúde pública

João Paulo Souza, diretor da BIREME/OPAS/OMS, apresenta a Biblioteca Global de Medicina Tradicional (TMGL) da OMS no seminário “Saberes do Cuidado” do programa Sesc Inspira, em São Paulo, abril de 2024.

São Paulo, 14 de abril de 2025 (BIREME/OPAS/OMS) - Como combinar ciência, conhecimento ancestral e transformação digital em prol da saúde pública? Essa foi a proposta apresentada por João Paulo Souza, diretor da BIREME/OPAS/OMS, durante o seminário Saberes do Cuidado, realizado nos dias 8 e 9 de abril, em São Paulo, como parte da programação do SESC Inspira, que celebra o Dia Mundial da Saúde com atividades educativas e culturais em suas unidades.

Organizado pelo Serviço Social do Comércio (SESC) de São Paulo – uma instituição brasileira dedicada à promoção da saúde, cultura, educação e bem-estar social – o evento reuniu mais de 200 participantes, incluindo profissionais de saúde, formuladores de políticas locais, funcionários de várias unidades do SESC e o público em geral. O seminário também contou com a presença de acadêmicos renomados, profissionais de saúde e curandeiros tradicionais, refletindo uma abordagem intercultural do cuidado e do conhecimento.

Em sua intervenção, João Paulo Souza compartilhou o progresso na construção colaborativa da Biblioteca Global de Medicina Tradicional da OMS (Traditional Medicine Global Library, TMGL), uma iniciativa liderada pela BIREME e pelo Centro Global de Medicina Tradicional da OMS (WHO GTMC), em articulação com outras instituições e redes colaborativas.

Souza ressaltou que a transformação digital tem o potencial de ser uma grande aliada do conhecimento tradicional: “A transformação digital pode ser uma aliada da ancestralidade quando é utilizada para preservar, conectar e proteger o conhecimento dos povos. A partir desta perspectiva, é possível desenvolver bases de dados multissistêmicas para identificar práticas seguras, eficazes e culturalmente adequadas inspiradas na sabedoria tradicional.”

A TMGL foi apresentada como uma infraestrutura digital colaborativa e descentralizada, projetada para integrar conhecimentos, práticas e sistemas de cuidados tradicionais de diferentes regiões do mundo, em diálogo com uma abordagem científica contemporânea. Concebida a partir de uma perspectiva multissistêmica, a biblioteca busca articular o conhecimento ancestral com a ciência moderna e as tecnologias digitais, promovendo o respeito intercultural, a equidade em saúde e a sustentabilidade. De acordo com Souza, esta abordagem abre a possibilidade de enriquecer as políticas e práticas de saúde pública, integrando diferentes racionalidades médicas sob critérios de segurança, eficácia e relevância cultural.

Souza explicou que a TMGL incluirá um portal global, seis portais regionais e coleções nacionais e temáticas, como Ayurveda, medicamentos indígenas, medicina ancestral africana e medicina afro-diaspórica, entre outros. Suas funcionalidades incluem acesso a bases de dados científicas, mapas de evidências, preservação digital do conhecimento tradicional, proteção da propriedade intelectual coletiva de povos indígenas e comunidades locais (PICL). Tudo isso com o objetivo de fortalecer a tomada de decisões informadas e culturalmente apropriadas em políticas públicas e sistemas de saúde.

Durante sua apresentação, o diretor da BIREME também destacou o desafio de promover um diálogo epistêmico respeitoso e produtivo entre os diferentes sistemas de conhecimento: “O desafio é como garantir o acesso universal, inclusivo e respeitoso a estas práticas, reconhecendo seu valor comunitário, ancestral e espiritual, ao mesmo tempo em que se identificam aquelas que são seguras, eficazes e culturalmente apropriadas para fortalecer os sistemas de saúde a partir de uma perspectiva pluralista”, afirmou.

A apresentação foi concluída com um apelo à colaboração, enfatizando que a TMGL é um bem público construído coletivamente, cujo desenvolvimento depende do compromisso conjunto de redes, comunidades, instituições e tomadores de decisão: “Nada se constrói sozinho. A TMGL será um bem público, resultado da colaboração entre redes, comunidades e instituições.”

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